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Regresso ao trabalho.
Houve uma altura em que escrevia crónicas humorísticas. Houve outra altura em que escrevia poemas. Quando escrevia crónicas, deixei de conseguir escrever poemas e vice-versa. Hoje sinto que não consigo escrever nada remotamente literário.
Nunca me conformei com o facto de ser um intelectual. A intelectualidade é dos teóricos. Não significa que seja inútil, mas um intelectual não pode andar na vida com pressa.
Sempre foi estranho para mim ver pessoas a bronzear-se. Derrubadas em cima de uma toalha sem nada fazer, apenas rodam qual porco no espeto, com o único intuito de parecerem uma coisa que não são.
De que vale estarmos chateados se ninguém souber?
As pessoas que escolhemos para o nosso fim-de-semana são as que contam. O resto é para cumprir calendário.
O padre aproximou-se para lhe dar a extrema unção e disse "faz boa viagem, meu filho. Vai devagar".
O caso "Joana Marques vs Anjos" desnudou uma realidade de que vamos frequentemente tendo evidências: muitas pessoas escolhem o seu ponto de vista em função de quem gostam mais e não pela sua convicção. Para muitos fãs da Joana Marques, ela poderia dar um tiro aos Anjos na rua e para muitos fãs dos Anjos, a Joana Marques poderia sentar-se na cadeira eléctrica.
Este caso não passa de um fait diver sem importância, mas é com este mesmo espírito que as pessoas discutem política ou, simplesmente, os temas do trabalho.
Vivemos numa sociedade de cheerleaders. Há demasiada gente a fazer a rodinha no pátio da escola enquanto dois miúdos esgaratujam as caras com as unhas.
O extremista pensa sempre que está em guerra com o extremista do outro lado. Nada mais errado. O extremista estará sempre em guerra com o moderado (que, diga-se, é diferente de não ter qualquer posição).
Deparo-me com uma questão fulcral: onde está o ponto em que aceitar algo é conformarmo-nos e onde está o ponto em que vale a pena tentar mudar algo é simplesmente não aceitar a realidade?
É uma eterna questão marcada por uma linha tão fina como uma agulha que de quando em vez me pica o sentido.
Férias.
Uma vez queria desenhar um cão e saiu um porco.
(Decidi deixar assim. Cada um agora interprete como quiser).
O julgamento da Joana Marques tem tudo para ser das melhores coisas dos últimos tempos nos tribunais portugueses. A humorista diz que estamos a perder tempo, mas eu não podia discordar mais, pois dizem os médicos que soltar umas gargalhadas tem efeitos bastante terapêuticos e quem sou eu para contrariar quem estuda aqueles calhamaços e jura em nome de Hipócrates não nos enganar.
Diz um deles que o humor para ele é bom quando se ri, o que está muito bem observado. Por exemplo, os meus doces preferidos são aqueles que são doces. Regra geral, diria que sou a favor de coisas boas e contra coisas más. Para rematar a frase, só faltou o irmão Rosado que proferiu tão distinta afirmação abraçar um peluche e perguntar à Meritíssima se era para escrever a caneta ou a lápis.
Diz um deles que gosta bastante de humor e que a prova disso é que num concerto fez uma piada sobre invisuais. Isto é uma variação daquela frase clássica "eu até tenho amigos que são". Percebemos por este encadeamento de ideias que Os Anjos não acham graça a piadas sobre eles, mas ficam malucos com piadas sobre cegos. Talvez os dois manos, dada esta inclinação para humor sobre cegos, se riam se alguém disser que o humor, tal como o amor, é fogo que arde sem se ver (frase também ela originalmente cunhada por um famoso zarolho nacional). Diz ainda um dos irmãos que teve uma crise de acne devido ao stress e que os limites do humor se estabelecem quando provocam danos - algo que certamente não aconteceu com a piada sobre o cego, pois aposto que não viu nenhuma erupção de bexigas na sua face. Hilariante.
Por fim, dizem ainda que não era preciso apagar o vídeo para não se perderem as visualizações e bastava serem convidados para o programa matinal da rádio para irem lá brincar sobre o assunto, mas dado que não foi possível decidiram ir brincar para o tribunal. Porém, admitem que não querem polémicas porque as marcas e empresas não se querem associar a bandas com polémicas. Isto é mais ou menos o mesmo do que ir a um rodízio no Chimarrão e queixar-se de que não apostam muito na comida vegan.
Talvez tudo isto fosse dispensável. Felizmente, não foi e temos entretenimento. Com Os Anjos ninguém faz farinha. É olho por olho e dente por dente. Não só vão até ao fim, como sabemos que não vão pedir desculpa à Joana Marques. Nesse campo, aliás, talvez apenas o façam da seguinte forma a um qualquer ceguinho:
"Perdoa se peço de mais
Teus olhos em mim são fatais".
Agora passem para cá um milhão.
Queria ter um estilo de vida mais sustentável. Não fazia sentido acumular nada que não fosse estritamente essencial. Decidiu doar um rim.
Quantas vezes se levantam fumadores a meio de um jantar para ir lá fora fumar e não falam mal das pessoas ou das conversas à mesa? Quantas vezes inspiram tabaco e não expiram fel?
Gostava de me poder considerar um escritor, mas são mais as vezes em que sinto que não consigo escrever mais do que frases ou ideias curtas. Talvez um dia.
À medida que envelhecemos, vamos cada vez menos vezes, mas regressamos cada vez mais.
Sempre pensei que os aviões da Boeing não caíssem. Achava que batiam no chão e faziam "Boeing" novamente para cima.
Tenho notado que quando fazemos um caminho pela primeira vez parece mais longo do que nas vezes subsequentes. Talvez por isso na infância o tempo demore mais a passar.
Tenho uma coceira do lado de dentro da cabeça. Como é que se faz para coçar?