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Diz o povo que mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. Talvez esteja relacionado com o facto de a mentira ter a perna curta.
Hoje em dia vejo toda a gente a falar de AI - talvez seja reumático - ou IA - talvez seja uma instrução para o cavalo galopar. Há os entusiastas que nos garantem que vai permitir acelerar o trabalho - o entusiasmo deve advir do ritmo lento de vida que levamos - e os detractores que têm medo que substitua o papel dos seres humanos - certamente pelo óptimo trabalho que temos feito. Era uma pena agora estragar.
Mudou a hora. Por aqui, continuamos na mesma.
Ficámos a saber pelas notícias que Luís Montenegro sofre esporadicamente de arritmias cardíacas. Com o meu voto já não conta. Sou incapaz de votar em quem não tem bom coração.
O meu primeiro medo foi um tipo conhecido como "Charneca". O Charneca era um sujeito com mau ar - ou pelo menos é assim que o recordo - com o qual era ameaçado sempre que o meu comportamento não era idóneo. Hoje em dia não guardo qualquer pingo de receio daquele Charneca, mas penso muito em como o Charneca pode surgir a qualquer momento para me atormentar.
Todos temos os nossos Charnecas.
Há ideias que não encontram a porta da rua. Nem sempre magoam. Às vezes, só fazem um pouco de comichão. Mas como podemos coçar algo que está dentro da cabeça?
Sempre li para tentar aprender a fazer contas à vida, mas descobri que são mais as vezes em que a vida é Matemática do que Literatura.
Há várias vidas na nossa cabeça. O que faria se me saísse o Euromilhões, como seria se determinada pessoa tivesse interesse em mim, quão bom seria se eu tivesse outro ofício, qual seria o plano ideal para assaltar o banco da esquina, o que deveria ter respondido quando certo fulano me interpelou na conversa de há bocado. Sem pontos de interrogação. Não chegam a ser perguntas. São locais por onde a estrada que percorremos não passa; fantasias que erram confinadas às fronteiras da nossa mente.
Poucas vezes um livro mexeu tanto comigo como "A Trégua" de Mario Benedetti. É, sem dúvida alguma, um livro belo que me faz odiar e amar o seu autor em doses iguais. Todo o livro é uma preparação para nos dar um golpe, apenas um golpe, desmedido, calculista e definitivo. Mario Benedetti parece ter escrito este livro com a mão de Deus - é essa a mão que nos coloca a dialogar consigo; é essa mesma mão que nos desfere o murro no estômago fatal. Benedetti põe e dispõe como um Deus nas nossas vidas. Fá-lo com mestria e brutalidade. É por isso que o amo e odeio em doses iguais. Fica a advertência a futuros leitores: é preciso ter estômago para ler este livro. Só quem tem estômago poderá sentir e amparar o golpe desmedido, calculista e definitivo da mão de Deus.
Qualquer português que viva no nosso país sabe que fizemos um pacto com o Universo: trocámos os bons salários pelo bom tempo. Agora que temos o tempo da Suécia, onde estão esses aumentos?
Nunca vou conseguir entender o impulso que as pessoas têm de publicar fotografias nas redes sociais com crianças africanas sempre que viajam para África. Por acaso, tiram uma fotografia abraçados a uma criança quando vão a uma aldeia do norte e o encontram a chutar uma bola contra a parede? A ideia é mostrar uma certa nobreza de espírito qual embaixador da Unicef? Vamos a África abraçar a diferença e os pobrezinhos?
Peço desculpa pelo tom acintoso, mas nunca consegui aceitar quem olha para uma vida alheia como quem olha para um animal encarcerado do lado de lá de uma jaula.
No outro dia, uma amiga psiquiatra disse-me que esperava menos doentes nesse dia por causa da chuva. Nunca pensei que a Depressão afastasse as pessoas do Psiquiatra.
Sempre fui bem comportado. Tão bem comportado que era possível que uma linha feita com a ajuda de uma régua parecesse mais torta do que o meu comportamento.
Um dia, estava a voltar da escola com um daqueles colegas a quem ninguém augura grande futuro face à sua atitude. A distância entre nós não poderia ser maior, embora morássemos relativamente perto. Em dado momento, o vil jovem decidiu que arremessar uma pedra com estrondo contra um portão era aquilo de que precisávamos nas nossas vidas. Sim, nas nossas. No plural. Após esse momento, em face do estrondo, várias pessoas vieram à janela reclamar do acto que, aparentemente, agora havia acontecido a quatro mãos.
Culpado por associação. Eis aquilo que fui nesse momento. Aprendi a minha lição e guardo-a até hoje.
Diz-se que na música é tão importante o som como o silêncio. É curioso que na música o silêncio parece que demora mais a passar do que o som.
A avaliar pela quantidade de eleições que temos pela frente, acho que é seguro dizer que a profissão mais comum em Portugal é a de cangalheiro: estamos sempre a ir às urnas!
Continuo desconfiado em relação ao ano de 2025. Se acontecer uma desgraça, já poderei respirar de alívio - a culpa de o ano ser mau não é minha!
Talvez tenha nascido com algum jeito para a escrita. Nada me deixa mais amargurado. Em caso de emergência, faço o quê? Escrevo um texto?
Dizer que a Arte alimenta a alma só reforça a sua superfluidade. Só quer alimentar a alma quem está de barriga cheia.
O tédio talvez exista para alertar o Homem de que a vida é finita e que o tempo é o bem mais escasso que tem, mas não deixo de invejar a capacidade de os outros animais se conformarem em apenas existir, como a andorinha que levanta vôo sem nenhuma razão e sem rumo algum. E está tudo bem.
Antigamente, partia-se do princípio de que as pessoas eram inteligentes. Entretanto instruímos a sociedade e chegámos à conclusão de que as pessoas são estúpidas. Só isso nos pode levar a querer evitar dizer "leite gordo".